Que tristeza para um país que, em tempos de negação da cultura e obscuridade, com exaltação e ataques à democracia, perde um gênio da cultura com um legado vasto, histórico e popular, de forma impressionante. Sua contribuição vai além do seu humor crítico, com personagens marcantes, e incomoda a “velha ordem”. Por isso que José Eugênio Soares, o nosso e eternizado Jô Soares, é tão genial.
Nascido no Rio de Janeiro, em 16 de Janeiro de 1938, escritor, ator, romancista, apresentador, músico, diretor teatral, torcedor do Fluminense e um verdadeiro apaixonado por futebol, Jô representava as suas emoções através dos seus grandes personagens, dentre eles o marcante e irreverente “Zé da Galera”.
A Copa de 82 na Espanha chegava e o simpático personagem que era o símbolo de um torcedor apaixonado se destacava com bons e inesquecíveis bordões, como “Bota ponta na seleção, Telê”, em uma crítica ao técnico Telê Santana pela ausência dos “Pontas” na escalação e esquema tático da seleção.
Zé da Galera representava todos nós, torcedores apaixonados, críticos e debatedores, nos bares, estádios e nas praças quando o assunto era o futebol. Um personagem vivo, que contagiava nossa gente com dizeres como “Telê, estou te ligando para fazer um apelo. Bota ponta na seleção, Telê.
Para com isso. Ponta é importante. Se a galinha não tem ponta no bico, como ela vai fazer para comer o milho? Outro dia fui assistir o jogo da seleção, olhei para o banco de reservas e ele tinha duas pontas, mas sentado no banco não tinha nenhum”.
O Jô e sua paixão pelo Fluminense
Jô Soares era tricolor de coração. Expunha seu amor ao Fluminense em seus programas, como o “Programa do Jô”, da Rede Globo, ao entrevistar ídolos do esporte, como Fred, assim como muitos passaram pelos seus programas em vários momentos.
Esteve presente no “Maracanazzo” de 1950. Era favorável à Copa do Mundo a cada dois anos, como declarou em uma das edições do programa “Arena Sportv” em 2014: “– A Copa é uma coisa que puxa o melhor das pessoas. Eu acho que deveria ter de dois em dois anos. Haveria menos guerras porque o mundo inteiro fica ligado.
A Copa passa a ser a coisa mais importante. Isso é bom porque estimula o lado lúdico das pessoas, o lado criança. Se você vir o que tem de estrangeiro nos bares confraternizando e brincando. E você vê que o crime no Brasil é realmente organizado porque eles devem ter mandado não assaltar em massa, é um momento em que há menos crimes – falou.”
Escreveu livros que valem um bom debate, como “A Copa que Ninguém Viu e a que Não Queremos Lembrar”, sobre a amargura da Copa de 1950, lançado em 1994 pela editora: Companhia das Letras, em conjunto com Armando Nogueira e Roberto Muylaert.
O futebol era vivido, escrito e demonstrado por ele em todos os cantos. Deixa a obra e uma referência magnífica. Defensor incansável da classe artística e da democracia, será sempre reverenciado, e o Zé da Galera estará sempre entre nós.
Thunai Melo, professor de História e Jornalista. Amante da literatura futebolística, de games retrô, é um bom nostálgico do mundo da bola e um operário da mídia independente. Escreve para o Jornal Dia e Noite da Bola, Canal Bola Viva e para o Jornal Daki.