Vamos contextualizar o clube no cenário futebolístico do ano 20, que foi um período dourado. Antes do grande momento que foi em 1926. O São Cristovão, carinhosamente chamado pelos torcedores de São Cri-Cri, já vinha de participações importantes em cariocas anteriores.
Nos campeonatos de 1918, 1923 e 1924, o clube ficou em terceiro lugar geral e em 1925 em sexto, voltando a ficar em terceiro lugar em 1929. Isto é, sempre se mantendo entre os seis primeiros e alcançando um bom nível de futebol.
O Campeonato Carioca de 1926
O começo do ano de 1926 se tornou promissor e a diretoria com esperança de conseguir uma campanha melhor. Mesmo com a volta do Vasco a disputa, que já era um clube consolidado, e ainda teria times fortes do Flamengo, Botafogo e Fluminense.
O primeiro campeonato disputado pelo São Cristovão foi o torneio Início, onde em seu único jogo empatou em 0x0 com o Botafogo sendo eliminado. Entretanto, esse seria o único fracasso na trajetória.
Antes desse torneio, o time tomou uma pancada que não esperava. Perdeu o craque do time, Nesi que tinha defendido a seleção brasileira entre os anos de 1923 e 1924 se transferiu para o Vasco.
Mas, o São Cri-Cri não se abalou e contava tinha um trunfo no banco, Luis Vinhares, Funcionário do clube a mais de 10 anos, prestando serviço como jogador e técnico.
Com apenas 29 anos, tinha uma visão de jogo a frente do seu tempo. Discípulo de Ramón Platero, técnico do Vasco campeão de 1923 e 1924, Luis teve que se readaptar com a saída do craque Nesi.
Para isso, armou sua equipe no tradicional 2-3-5, mas, com uma diferença que ajudaria a levar ele ao sucesso. Repetiu o método de treinamento do Ramón, baseado no discurso motivacional e no treinamento físico muito puxado.
Todavia, apenas ele e Ramón usavam esse tipo de treino, puxado mais para um treinamento militar do que de futebol. E como todos os outros times amadores não faziam o mesmo, chegavam no segundo tempo em desvantagem física comparado ao time do bairro Imperial.
O Bicho como pagamento
Outra importante ajuda que o time receberia, seria do Industrial Àlvaro Teixeira Novaes. Em uma época de futebol ainda amador, todo jogador tinha seu emprego e uma “vida normal”. O Vasco quebra um pouco isso pagando um “bicho” aos jogadores, dando a eles gansos, galinhas, gambás, porcos, etc… como forma de pagamento pelos serviços prestados.
Àlvaro observou isso e resolveu também se utilizar da mesma forma e pagando esses “bichos”. Desta maneira, estaria ajudando os jogadores fazendo com o que os atletas se concentrassem apenas em jogar futebol.
O campeonato de 1926 seria marcado pelo vigor físico e pelo futebol superior de São Cristóvão e Vasco ( 1 e 2 respectivamente), o que assustou os clubes ditos favoritos.
Dito isso, nesse ano o futebol já começava a mexer com o brilho e a emoções dos torcedores, e várias partidas tiveram invasões de campo. Torcedores enfurecidos partiam para cima do juiz para “meter a porrada” no pobre homem. Inclusive, uma dessas partidas decidiram o campeonato.
O Campeão de 1926
O jogo entre São CriCri e Flamengo marcaria a maior confusão e polêmica daquele Campeonato Carioca. Em um determinado momento do jogo, mais precisamente aos 18 minutos do segundo tempo. time da Gávea vencia o jogo por 3×1 em seu campo na Rua Paysandu, quando o juiz marcou um pênalti a favor do clube de São Cristovão.
Um torcedor enfurecido invadiu o gramado e tentou agredir o juiz, jogadores, dirigentes. Com isso, outros torcedores iniciaram uma briga generalizada e não foi possível terminar a partida do dia 1 de agosto.
A ideia era reiniciar uns dias depois da onde parou, mas os debates se iniciaram e só foi resolvido dois meses depois com a decisão de começar um novo jogo. Em razão disso, a partida foi remarcada para o dia 21 de novembro, mas um detalhe chama a atenção.
O campeonato tinha terminado a um mês, se o São Cristóvão perdesse, o Vasco seria campeão. Porém, em caso de vitória o time seria vencedor do título e foi o que aconteceu, um sonoro 5×1 foi feito em cima do rubro negro e o São Cri-Cri ergueu o troféu.
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