Um herói chamado Caszely

O homem que desafiou um ditador, defendeu sua mãe e se tornou o maior jogador da história do Chile.

Certamente que o caro leitor já ouviu falar de nomes como Pinochet e Salvador Allende e a terrível ditadura chilena que exilou 200 mil pessoas e matou mais de 2 mil pessoas.

Jogadores da seleção e times chilenos apoiaram o golpe, mas um atleta foi ousado e desafiou o autoritarismo em nome ao amor de sua mãe. Carlos Humberto Caszely Garrido, o mais popular jogador do país e o homem que fez frente a tirania de Pinochet.

O Jogador

Carlos Caszely teve uma carreira extremamente vitoriosa que o fez ídolo do Colo Colo e do país. Filho de René Caszely e Olga Garrido, nasceu dia 5 de julho de 1950, no bairro de San Eugênio, em Santiago.

Desde pequeno já demonstrava que era diferente no futebol, tanto é em 1967, com apenas 16 anos aquele driblador abusado assina seu primeiro contrato com o Colo Colo.

Apenas três anos depois, veio o primeiro título e o jogador é eleito destaque do campeonato chileno.

Com Caszely chamando atenção, não iria demorar para a Europa tentar contrata-lo.

Contextualizando: Devido a uma lei vigente à época, que caiu apenas em 1973, a Espanha ficou alguns anos sem poder contratar atletas estrangeiros. Após essa liberação, alguns times procuraram o chileno.

Quem ofereceu as melhores condições e um plano de carreira foi o modesto Levante, que tinha acabado de subir da terceira para a segunda divisão.

Caszely

Mas como os times espanhóis conheceram o chileno? O Colo Colo fez uma excursão pela Europa e seu futebol impressionou os que viram. A negociação aconteceu quando o time estava na União Soviética e o contrato fechado por telex.

Sem duvida nenhuma brilhou enquanto esteve no Levante, tanto que se transferiu para o Espanyol e ajudou a classificar a equipe da Catalunha para a Copa UEFA.

Mesmo ficando fora dos primeiros jogos do Espanyol devido ao número de estrangeiros, seu futebol foi tão marcante que o craque Cruyff pediu sua contratação para o rival Barcelona.

Em cinco anos de Espanha, foram mais de 60 gols e foi lá que a briga com Pinochet tornou-se séria.

A Copa do Mundo e a primeira expulsão de Caszely

O Chile passou pelas eliminatórias sul-americanas com 3 jogos e 2 vitórias e segundo critérios da época, deveria disputar duas partidas contra a URSS para saber quem iria para a Copa.

A primeira partida foi realizada, porém a segunda não. Acontece que a União Soviética se recusou a jogar no Estádio Nacional de Santiago, pois lá era o principal palco de tortura e morte da ditadura chilena.

O Chile acabou não fazendo uma boa Copa do Mundo, e em três jogos foram dois empates e uma derrota. Perdendo para a seleção da casa, a Alemanha Ocidental. No entanto, nesse jogo Caszely entraria para a história.

Caszely

A Alemanha venceu por apenas 1×0, com os sulamericanos jogando muita bola e segurando o esquadrão germânico. Mesmo depois do gol de Breitner, o Chile mostrava seu bom futebol.

Mas algo seria decisivo para a derrota.

Em um determinado momento do jogo, o craque Caszely acabou sendo expulso e esse caso foi usado pelo governo chileno para tentar acabar com a moral do jogador.

A ditadura chilena

O Chile vivia um momento crítico. Uma crise econômica sem precedentes, um povo dividido em guerra ideológica, alto índice de desemprego e problemas sociais.

Caszely era grande apoiador da esquerda, inclusive apoiou diversos políticos marxistas.

Uma vez que a politica estava tensa, certamente algo iria explodir mais cedo e mais tarde. E a vitória nas eleições do médico e esquerdista Salvador Allende, foi o gatilho necessário para o golpe.

Salvador Allende é eleito presidente do Chile e Pinochet decide colocar seu plano em prática.

Caszely
Salvador Allende foi eleito presidente chileno / foto: Fundación Allende

No dia 11 de setembro de 1973, o General ataca o Palácio do governo, sede do executivo e toma o poder.

Allende fez um discurso emocionado, entra em sua sala e comete suicídio. Pinochet tinha o caminho livre para a ditadura.

O aperto de mão e o sofrimento da mãe

Mesmo com a campanha ruim, na volta para casa a seleção foi recepcionada com uma grande festa pelo ditador.

Lembrando que o jogador foi contra o golpe, já que participava de movimentos da Unidade Popular, grupo de esquerda que apoiou Allende.

Na festa, o ditador apertou a mão de cada jogador. No entanto, chegando quase por último em frente ao Caszely. Todavia, ele não esperava por algo que marcaria sua vida.

Ao passar pelo jogador, Pinochet estendeu sua mão para cumprimentar e Caszely simplesmente estava com as mãos para trás e continuou, deixando o general sem graça e sem saber o que fazer.

Caszely se recusou a apertar a mão do General Pinochet / foto: reprodução internet

Desse dia em diante, o governo começou uma campanha de difamação do jogador, pois sabia que o mesmo contava com o apoio de uma massa expressiva da população.

Mas algo aconteceu que marcaria a vida de Caszely. Quando o jogador foi visitar sua mãe, encontrou ela desorientada e espancada.

Segundo a senhora, militares entraram em sua casa, a interrogaram e a torturaram. Isso foi a gota d’água para Caszely que começou uma luta desenfreada contra a ditadura chilena.

Mesmo estando na Espanha, todos os dias denunciava as atrocidades para o mundo ouvir.

Mas ele seria muito mais efetivo …

O final de carreira e a vitória eternizada

Quase no final da carreira, em 1985, Caszely queria se despedir no seu clube de coração, logicamente estamos falando do Colo Colo.

Um dado curioso é que o jogador enfrentou o Santos de Pelé e o time paulista ficou tão encantado com seu futebol que tentou contrata-lo.

Estádio de Santiago lotado e não apenas de torcedores do Colo Colo, mas de toda nação chilena.

O governo proibiu a transmissão da partida pela tv mas, a rádio transmitiu. E no final, em um discurso emocionado ,lembrou de como achou sua mãe e prometeu que aquilo jamais aconteceria com qualquer chileno.

A partir de sua aposentadoria, a luta foi fora de campo e contava com o apoio popular.

Enfim, o governo convocou um Plebiscito para saber o que o povo chileno desejava para o país. O ex jogador brigou, discursou e influenciou diretamente na votação que aconteceu em 1988. Com a vitória da democracia, o Chile se livrou da ditadura, e dentro todos os heróis, Caszely foi o que mais se destacou .

Caszely marcou na carreira 323 gols pelos seguintes times:

  • Colo Colo
  • Levante
  • Espanyol
  • N.Y .Cosmos
  • Barcelona Equador

Principais Títulos de Caszely

  • Campeonato Chileno :1970,1972,1979,1981 e 1982
  • Copa do Chile :1981,1982 e 1985

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