Por que a Coca-Cola patrocinava todo mundo nos anos 80?

Durante a Copa do Mundo de 2022, no Qatar, colecionar figurinhas virou febre entre os brasileiros. Em escolas, shoppings e praças era comum encontrar quem trocasse ou vendesse esses cards. No entanto, quem ia até o supermercado comprar a Coca-Cola zero poderia encontrar algumas dessas figurinhas no rótulo.

O que pouca gente sabe é que a empresa estadunidense mundialmente conhecida pela produção de bebidas, também tem grande participação quando o assunto é esporte.

Desde 1978, a Coca-Cola é patrocinadora oficial da Copa do Mundo Fifa. Além disso, a empresa é parceira do COI – Comitê Olímpico Internacional, desde os jogos de Amsterdam, em 1928.

Mas em 1987, aqui no Brasil, a Coca-Cola foi mais longe e decidiu patrocinar de uma vez todos os clubes da elite nacional.

Como isso aconteceu? Antes de responder a essa pergunta, já adianto que não vamos entrar na polêmica sobre quem seria o campeão brasileiro de 87. Muito menos na famosa disputa pelo portador definitivo da taça das bolinhas.

Taça das Bolinhas ou Troféu Copa Brasil foi oferecido pela Caixa Econômica Federal / foto: Estefan Radovicz / Folhapress

Dito isso, vamos ao episódio que antecedeu toda essa confusão.

Até o ano de 1986, a CBF era responsável por organizar as competições nacionais e isso incluía o Campeonato Brasileiro.

Com um formato diferente do atual, naquela época a competição podia ter até 94 times na divisão principal.

Nasce o Clube dos 13

Em 1986, a CBF passava por um momento bastante conturbado internamente. Por conta de problemas na presidência, a entidade foi perdendo o prestígio com os clubes e chegou a declarar falência.

Sem ter condições de organizar o Campeonato Brasileiro de 1987, coube aos clubes a missão de tentar elaborar uma nova competição.

Sendo assim, os dirigentes de Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético-MG, Cruzeiro e Bahia, clubes com as maiores torcidas do país, se reunirem para a criação do Clube dos 13.

Jornal O Estado de S. Paulo em 1987

Liderados pelos presidentes do Flamengo (Márcio Braga) e do São Paulo (Carlos Miguel Aidar) a justificativa para ter apenas esses clubes era organizar um campeonato rentável financeiramente.

E assim, times que tinham grande relevância como América-RJ e Guarani -SP, ficariam de fora da competição.

Com os 13 clubes fundadores no comando do “novo” Campeonato Brasileiro, a única exigência da CBF era que fossem incluídos 3 times, Coritiba, Santa Cruz e Goiás.

O pedido foi aceito, mas para o torneio sair do papel ainda precisava de patrocinadores. Com isso, os diretores de marketing de Flamengo e São Paulo, João Henrique Areias e Celso Grellet, conseguiram o apoio de três gigantes.

A Rede Globo ficaria responsável pela transmissão das partidas. A companhia aérea Varig seria responsável pelo transporte das 16 delegações. E a Coca-Cola estamparia sua marca na camisa de todos os times e no gramado dos estádios.

Com um esforço conjunto para organizar o evento, o Campeonato Brasileiro de 1986 foi chamado de Copa União.

A polêmica da Coca-Cola

Antes mesmo do início da competição surge a primeira polêmica. A Coca-Cola, que deveria exibir sua marca na camisa dos 16 clubes participantes, foi informada que Flamengo e Corinthians não renunciariam ao patrocínio corrente. Lubrax e Kalunga, respectivamente.

Coca-Cola
Flamengo e Corinthians não abriram mão do patrocinador para assinar com a Coca-Cola / foto: divulgação

Palmeiras, São Paulo, Inter e Santos só aceitariam ostentar o logo da Coca-Cola após o fim dos patrocínios vigentes.

 Já o caso do Grêmio foi o mais curioso de todos. Por conta da rivalidade com o Internacional, o time gaúcho obrigou a companhia a tomar uma decisão inédita até então.

O tricolor aceitaria o patrocínio, desde que a empresa não utilizasse a cor vermelha na logo que seria exibida na camisa.

Coca-Cola
Camisa do Grêmio com a logo da Coca-Cola na cor preta e branca. / Foto: Twitter

A exigência foi aceita e a marca passou a ser exibida no uniforme gremista, mas na cor preta.

Ao final da fase de negociações, ficou definido que a Coca-Cola exibiria a sua marca em 10 dos 16 times que disputariam o Módulo Verde.

Em 1988, o Campeonato Brasileiro voltou a ser organizado pela CBF. No entanto, o patrocínio da Coca durou por mais alguns anos.

Clubes como Vasco, Cruzeiro, Grêmio, entre outros, continuaram a exibir a marca até 1994. Outro gigante que continuou com a empresa por muito tempo foi o Botafogo. Mas ao final do contrato resolveu troca a Coca-Cola pela Seven-up, da rival Pepsi.

Coca-Cola também na camisa da seleção brasileira

Quem foi até o Estádio Parque do Sabiá, em Uberlândia, no dia 9 de dezembro de 1987, presenciou uma partida histórica.

Dentro de campo, o Brasil venceu o Chile por 2×1, em partida amistosa. Entretanto, a camisa amarela da seleção exibia a marca da Coca-Cola. Uma ação de marketing inédita e proibida pela Fifa.

Coca-Cola
A CBF ignorou orientação da Fifa na partida entre Brasil x Chile. / Foto: arquivo O Globo

Vale lembrar que a CBF passava por dificuldades financeiras e o desrespeito a Fifa renderia cerca de 40 mil dólares ao cofre da entidade.

A atitude da CBF passou impune, pois o presidente da Fifa era o brasileiro João Havelange. No entanto, o mandatário advertiu a Confederação Brasileira de Futebol e ameaçou aplicar uma punição severa, caso a atitude se repetisse.

Fato é que três dias após o ocorrido, o Brasil voltou a campo para enfrentar a Alemanha Ocidental, no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Na ocasião, a camisa canarinho estava livre de patrocínios.

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