Escrito por: Thunai Melo, professor de História da Rede Estadual de Ensino do RJ e Jornalista. Amante do futebol de botão, da literatura futebolística, de games retrô e sempre um bom nostálgico do mundo da bola.
Maracanã, Rio de Janeiro, 19 de Julho de 1992. 122.001 presentes viram a apoteose de um time orquestrado por Júnior e comandado pelo saudoso (e também ídolo) Carlinhos.
Time este que consagrou e consolidou uma geração de craques, como Djalminha, Paulo Nunes, Marcelinho, Zinho, Rogério, Junior Baiano, Luís Antônio, Nélio, Piá, Fabinho, Marquinhos e Zinho.
Além da garotada, estavam os experientes Gilmar, Charles, Wilson Gottardo, Júlio César, Uidemar e o goleador inesquecível Gaúcho. Junto, obviamente, do maior aliado e patrimônio do Clube de Regatas do Flamengo: a sua torcida.
Passaram-se 30 anos de uma campanha longe de ser irretocável. Mas, como dizem os saudosistas e místicos, “deixou chegar…”. Uma epopeia abençoada pelos deuses, em meio a uma triste e lamentável tragédia.
Jamais devemos esquecer das pessoas que se feriram e morreram com o rompimento da grade e a queda das arquibancadas. Fruto da desorganização do poder público e a sua má administração dos grandes eventos.
Mesmo assim, nada poderia calar os cantos da torcida pentacampeã e a festa em todo o Brasil. O Flamengo soube jogar, ser decisivo e ser campeão, com a melhor geração após a histórica “Era Zico”, enfrentando um fortíssimo (e favorito) Botafogo.
A primeira fase
O Flamengo terminou a primeira fase com 22 pontos, conquistados em 19 jogos, com 8 vitórias, 6 empates, 5 derrotas, 32 gols pró, 24 gols contra, 8 gols de saldo e 58% de aproveitamento.
Uma classificação em 4º lugar dentro de uma disputa com outras 19 equipes, em turno único, onde classificavam-se os 8 melhores colocados. Com times divididos em dois grupos de 4 equipes na fase seguinte, dando a vantagem do empate em dois resultados iguais ao time que obtiver melhor campanha na finalíssima.
A trajetória do Penta na segunda fase e a fundamental participação da “magnética”.
Chegando em 4º lugar na primeira fase, o Flamengo integra o Grupo A, considerado o “Grupo da Morte”. Junto ao Vasco, time de melhor campanha na primeira fase, do artilheiro da competição Bebeto, com 18 gols, e grande elenco.
O poderoso São Paulo, que se tornaria Bicampeão da Libertadores e do Mundial Interclubes em 1992 e 1993, comandado por Telê Santana;, e o Santos, do goleador Paulinho MC Laren.
O “Mais Querido do Brasil” somou 7 pontos em 6 jogos, obtendo 3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas. Vitórias marcantes, como o 2 a 0 contra o Vasco, gols de Júnior e Nélio; e o 3 a 1 contra o Santos, no Maracanã, com gols de Nélio, Bernardo (contra) e Gaúcho, definiram praticamente a vaga para a finalíssima contra o Botafogo, em dois jogos.
É verdade que o rival colaborou para que essa vaga para a final ficasse para o Flamengo, pois o time de São Januário venceu o São Paulo por 3 a 0. Mas nada tiraria o mérito do time do “Maestro” Júnior e cia para mais uma final de Brasileiro.
O Maracanã entre a tragédia e a alegria, o Mengo é pentacampeão.
Eram dois jogos. O adversário era o favorito Botafogo, que terminou a primeira fase em 2º lugar na classificação, e contava com nomes pesados e experientes no elenco. Como Renato Gaúcho, Valdeir, Chicão (vice-artilheiro da competição com 12 gols). Carlos Alberto Dias, Márcio Santos (tetracampeão pela seleção brasileira nos EUA em 1994), Válber, Pingo, Pichetti, Ricardo Cruz e o técnico Gil.
Um grande time montado pelo polêmico presidente Emil Pacheco Pinheiro para dar o primeiro título brasileiro ao alvinegro*.
O Flamengo chegou embalado à grande final. Júnior, na época com 38 anos, era a principal liderança técnica. Craque remanescente da geração dos anos 80. Eleito Bola de Ouro da Placar e o ponto de equilíbrio do time, foi o grande nome das finais.
Com toque de bola refinado, lançamentos espetaculares, distribuição de jogo e finalização, o rubro-negro fez com que o Botafogo não tivesse a mínima chance no primeiro jogo, tomando 3 gols, de Júnior, Nélio e Gaúcho, em 40 minutos da primeira etapa.
Atuação que deixou a torcida rubro-negra enlouquecida dentro de um Maracanã com 102.547 pessoas, fazendo do Mário Filho um carnaval fora de época.
Nem os mais otimistas torcedores do Flamengo acreditavam em um placar elástico e na facilidade que o time teve para dominar o Botafogo, praticamente decidindo o título naquele primeiro jogo, do dia 12 de julho de 1992.
A confiança obtida pela vitória era absoluta contra um Botafogo que já foi para o segundo jogo, na tarde de 19 de julho de 1992, com um complicado resultado adverso.
Título e tragédia
Entretanto, a polêmica que envolveu a aposta de Renato Gaúcho e o artilheiro Gaúcho, pelo lado rubro-negro, e o churrasco entre os jogadores após o primeiro jogo, era a demonstração do desequilíbrio das lideranças da equipe de General Severiano.
O Flamengo poderia perder até por dois gols de diferença para se consagrar pentacampeão brasileiro. Título que começou a se consolidar com os gols de Junior, de falta, e Júlio César (o “Imperador”) no segundo tempo.
Para o Botafogo e sua torcida, mesmo com os gols de Pichetti e Valdeir, nos minutos finais, só restaram as cinzas. E a torcida do Flamengo, apesar da lamentável tragédia que vitimou três pessoas e deixou muitos feridos após o rompimento das grades na arquibancada, pintou o Rio de Janeiro e o Brasil em vermelho e preto.
Foi o 5º título brasileiro do Flamengo em 12 anos e, até aquele ano, o 4º Campeonato Brasileiro conquistado no Maracanã (1980, 1983, 1987 e 1992), tornando-se o clube que mais vezes conquistou o Brasileirão.
O maior bandeirão do mundo cobria todo o campo e os cantos de “Oh, Meu Mengão, Eu Gosto de Você” eram cantados na arquibancada a todos pulmões. Finalizando o show de uma sintonia orquestrada por Júnior e companhia no bom, velho e saudoso Maracanã.
Já se passaram 30 anos de uma conquista para a eternidade, que consagrou uma geração de jogadores e tornou-se referência também para uma nova geração de rubro-negros, que surgiram nos anos 1990.
Você pode gostar de ler: El Cuartito, Tradição, Pizza e Futebol na noite fria de Buenos Aires