Perdão ao Goleiro Barbosa, Uma falha que destruiu o homem 

O nosso dever é pedir perdão a um homem vitorioso, que deu tudo ao Vasco e ao futebol, só esqueceram dele depois do 7x1

“Segundo o falecido cronista Armando Nogueira, Barbosa foi “certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Ghiggia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo o lance, mais o absolvo”.

Pois agora, tanto Tereza quanto seu pai, onde quer que esteja, podem ficar tranquilos: a ‘maldição’ foi enterrada nesta terça. A sete palmos abaixo da terra. Em cada um dos sete gols alemães. Descanse em paz, Barbosa.

Condenado a uma prisão perpétua sem estar atrás das grades. Mas, seria por conta de uma suposta falha ou teria como origem sua cor de pele? Por conta disso, sua maravilhosa carreira foi apagada por uma mídia tendenciosa e um povo ignorante.

Criaram a estigma de “goleiro negro dá azar” , isso é um fato tão verdadeiro que um goleiro voltaria a ser titular da seleção apenas com DIDA. A sacanagem foi tanta que o goleiro foi visitar a seleção na Granja Comary em 1993, às vésperas no Brasil e Uruguai, e simplesmente foi barrado. Só tenho uma coisa a pedir a família e ao eterno ídolo: PERDÃO!

Nesse artigo não vou tocar no fatídico lance que o condenou, mas a intensão é exaltar a carreira e o homem que foi Moacir Barbosa. Me arrisco a dizer que ele é top 10 da história entre os maiores goleiros brasileiros e facilmente é melhor que muito arqueiro que serviu as traves brasileiras. 

Goleiro Barbosa
Barbosa em campo pelo Vasco

O HOMEM 

27 de março de 1921, a família Barbosa estava em festa na pequena cidade de Campinas, interior de São Paulo. Nascia Moacir Barbosa Nascimento, um menino negro, forte, que ainda adolescente, iniciou sua vida esportiva antigo Comercial da capital paulista, como ponta-esquerda.

Logo depois se transferiu para o Ypiranga(o mesmo que já teve em seu quadro de jogadores, nosso primeiro grande craque o lendário Arthur Friedenreich), onde mudaria de posição e se tornaria um goleiro com talento indiscutível e que faria mais de 150 jogos pelo clube.

Barbosa sempre se destacou entre os onze jogadores do Ypiranga, muito pela sua segurança, elasticidade, ótimo senso de colocação e com uma pitada de abuso. 

Os antigos falavam que o Barbosa era um goleiro acima dos demais. Era comum ver o goleiro fazer “pontes”, trocar as mãos no último momento da defesa ou jogar a bola nos pés do atacante para ter o prazer de pular e pegar novamente. 

E foi o ótimo desempenho do goleiro que despertou o interesse do Gigante da Colina. Por coincidência, o Ypiranga tinha um apelido que ligava o Barbosa ao Vasco. Por obra do destino o time de São Paulo era chamado de “Vovô da Colina Histórica”.

Chegada ao Vasco

O Vasco da Gama contratou o jogador em 1945, para substituir o goleiro Rodrigues, no entanto, Barbosa só se estabeleceu como titular na equipe carioca em 1946, passando por um período de adaptação.

As atuações chamaram tanta a atenção que ele começou a ser convocado para a seleção brasileira ainda no ano de sua chegada ao Vasco, mesmo sem ter a titularidade do time cruzmaltino assegurada.

O goleiro era tão genial que era comum a imprensa exaltar a exibição magistral do goleiro, acima dos jogadores de linha. Um exemplo claro é como o periódico “JORNAL DOS SPORTS” de 1948 , coloca a atuação de Barbosa como “excepcional”, salvando o time da colina de um massacre paulista.

Nesse mesmo ano, o Vasco era já campeão Sul-Americano e decidiu participar de um torneio triangular em Minas Gerais, com o América Mineiro e o Atlético Mineiro. Ao final da competição, a definição do mesmo jornal foi: ”Barbosa, a sensação do torneio triangular”.

Goleiro Barbosa
Barbosa no Maracanã, palco de alegrias e tristezas

As Conquistas de Barbosa

Na década de 50, o JORNAL DOS SPORTS, promoveu o evento conhecido como o “Oscar do Futebol”, que teve como sede a Casa do Jornalista. Uma grande festa foi armada para premiar os grandes jogadores do ano de 1951. Isto é, aqueles que se destacaram e brilharam nos campos cariocas, e quem recebeu o prêmio de goleiro menos vazado? Ele mesmo, nosso herói Barbosa. 

No Vasco, o goleiro viveu sua melhor fase, conquistando 6 Cariocas, 1 Sul-Americano e 2 Campeonatos Brasileiros de seleções, sempre sendo destaque pelas defesas e o jeito magnífico de jogar. 

Em 1953, Barbosa sofreria uma grave lesão, o atleta teve sua perna quebrada em uma dividida com o jogador do Botafogo Zezinho. A fratura, tirou as chances dele participar da copa de 1954, e o goleiro teria boas chances de ir. Mas, antes disso ele tinha quebrado a mão e foi obrigado a usar gesso, ficando afastado por 30 dias.

Depois do Vasco, Barbosa se transferiu por empréstimo para o Bonsucesso, onde viveu momento bem interessantes.

Com a camisa do rubro-anil carioca, ele se destacou segurando o empate contra Vasco e Fluminense. Na ocasião, chegou a ser convocado como goleiro titular para representar a Seleção Carioca em uma excursão na Argentina. Vale ressaltar que para essa disputa só foram convocados jogadores dos times médios do futebol carioca.

Barbosa teve passagens por clubes pequenos

O primeiro torneio que o goleiro Barbosa participou pelo novo clube, foi o antigo “torneio Inicio” e não fez feio. Empatou em 0 x 0 com o América e venceu nos penalts por 3 x 2. Entretanto, nas semifinais perdeu para o time que seria o campeão, o Madureira, pelo placar de 1 x 0.

Apesar da péssima campanha do time no Campeonato Carioca daquele ano, Barbosa foi o grande destaque do time. Com isso, ao final da competição, o goleiro acabaria retornando para o Vasco e continuaria conquistando mais títulos pelo cruzmaltino.

O goleiro ainda passaria pelo Santa Cruz antes de encerrar a carreira no ano de 1962, vestindo as cores do Campo Grande.

Aos 42 anos de idade, o goleiro se transferiu para o alvinegro da Zona Oeste do Rio. O quadro do time era bom e jornais da época atestavam que a equipe com Barbosa, Esteves, Viana, Paniche, Russo e Delcio daria certo trabalho aos clubes grandes naquele ano. Entretanto, o time terminou em oitavo lugar na competição disputada por treze times.

Barbosa pouco jogou, sofreu com substituições devido a lesões e teve pequenas participações. Mas, devemos destacar a estreia do Campo Grande no Campeonato Carioca, com atuação de gala do goleiro. O Campusca venceu o Botafogo com 4 campeões mundiais pela seleção brasileira em 1962, por 1 x 0.

O time da Zona Oeste atuou sem medo, partindo para cima do time da Zona Sul, encarando de igual para igual e assim surpreendeu a todos.

Goleiro Barbosa
Goleiro Barbosa é ídolo do Vasco da Gama

SEU FINAL DE VIDA

“Eu não falo sobre isso. Nem adianta. Quer falar do Barbosa? Então, vamos falar do goleiro maravilhoso que ele foi, ídolo eterno do Vasco. Quem perdeu aquela Copa foram políticos, aproveitadores e a imprensa marrom”. disse Tereza ,filha de Barbosa, em entrevista a ESPN Brasil.

Após sua aposentadoria o goleiro Barbosa conseguiu um cargo público. Com isso, o agora ex jogador trabalhava dentro do Maracanã, enquanto continuava sendo esquecido pela sociedade, sendo sempre lembrado apenas pela falha da copa de 50.

Mesmo com todo o sofrimento de uma mídia suja e uma sociedade hipócrita, sempre encontrava um sorriso nos torcedores do Vasco e relatava que sempre recebia ajuda do amigo Eurico Miranda.

Pois, ganhava uma miséria em sua aposentaria , o Eurico sempre enviava dinheiro e com essa ajuda pagava o aluguel e despesas. Pouco tempo depois, o goleiro Barbosa passou por uma grande perda em sua vida. D. Clotilde, sua companheira de mais de 40 anos, morre em 1997 de câncer na medula.

O herói brasileiro morre no dia 7 de abril de 2000, esquecido pela historia e apenas sendo lembrado pelo seu clube de coração, o Club de Regatas Vasco da Gama.

A repercussão da morte de Barbosa

Uma das reportagens que mais chamou atenção foi do UOL que começava a matéria assim: “Brasil assiste a 2º enterro de Barbosa”. E realmente, condenaram um goleiro que deu a vida pela seleção, tudo isso por causa de uma suposta falha.

Por outro lado, há quem diga que tem um contexto racista por trás, pode ser até que não, mas pense:

Depois disso, o Brasil nunca mais teve um goleiro negro como titular da seleção, isso só foi quebrado no final dos anos 90 com Dida. Lembrando que na época da copa de 50, o racismo dentro da sociedade carioca continuava bem viva e nada velado.

Com isso, era difícil não colocar a culpa de uma derrota em um negro, alguém que boa parte da sociedade ainda não conseguia aceitar que venceu na vida. 

Barbosa só seria esquecido pelo fracasso de 50 depois do humilhante 7×1, isso sim vou um verdadeiro vexame.

Condenamos um homem em vida e nunca perdoamos sua falha, mas o que importa que sua carreira foi vitoriosa, honrada e dedicada a dois grandes amores. Sua esposa e o Gigante da Colina.

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