Como uma campanha pode ser influenciada por brigas internas? O ano de 1934, o futebol nada mais era que um reflexo da crise que o país vivia.
Em uma época em que os jogadores de futebol buscavam algo melhor para eles, era necessário que os clubes se estruturassem para suportar a nova onda do esporte que crescia com a força da rádio.
Ao mesmo tempo, o ano começava tenso na politica, pois nesse mesmo ano, Getúlio Vargas daria novamente um golpe e instalaria no país o ESTADO NOVO.
Nesse contexto político, o futebol cada dia se tornava mais popular e chegava as camadas mais pobres da população e muito graças ao rádio, que tinha sido inaugurada oficialmente em 7 de setembro de 1922.
Isto é, durante as comemorações do centenário da Independência do país. Com a transmissão, à distancia e sem fios da fala do presidente Epitácio Pessoa na inauguração da radiotelefônia brasileira.
Isso explica muito a grande torcida que Vasco e Flamengo sempre tiveram no nordeste. Pois, as transmissões dos jogos do futebol carioca chegavam ao norte e nordeste, tornando o Flamengo tricampeão e o Expresso da Vitória vascaíno, times bem populares.
A COPA
Depois do sucesso que foi a Copa do Uruguai, o governo de Mussolini queria provar para o mundo que sistema fascista era eficiente. Não apenas em controlar o povo, mas também nos esporte.
O desejo de Mussolini era “ressuscitar” a glória do Império Romano, tanto que as instalações para essa Copa, tanto para os outros esportes, lembravam muito os antigos locais de disputas romanas.
A Copa passou a ser tão atraente que pela primeira vez ouve as eliminatórias para participar desse esporte. Ao todo, 32 seleções se inscreveram para disputar o certame, inclusive os donos da casa Itália tiveram que disputar um jogo para participar da copa e venceram por 4×0 a Grécia.
Outra curiosidade é a participação da primeira seleção Africana, o Egito realizou dois jogos nas eliminatórias contra a Palestina, vencendo ambos os jogos por 7×1 e 4×1.
Sem muitas surpresas, a Itália jogando um futebol maravilhoso e com “erros” da arbitragem, chegou a final da copa contra a extinta e tradicional Tchecoslováquia, vencendo os tchecos por 2×1, tendo como grande craque Giuseppe Meazza.
Sobre o Brasil, era uma seleção desacreditada e fraca, sem boa parte dos craques da época. Podemos assim falar da pior campanha da história da seleção, um jogo e uma derrota e uma amarga décima quarta colocação, à frente apenas de Bélgica e EUA.
Amadores x profissionais.
O futebol brasileiro já tinha iniciado o processo de profissionalização, algo que a mais de três anos estava sendo discutido, mas ainda estava em fase embrionária.
Outros países já tinham ligas bem estabelecidas, com campeonatos de pontos corridos e um futebol bem organizado, o Brasil ainda estava na transição, uma fase de mudanças e os campeonatos estaduais definiam os melhores do país, principalmente o Paulista e com um peso maior, o Carioca.
Foi nessa disputa de egos entre amadores x profissionais levou a seleção ao fiasco total. Um mês antes do campeonato, a CBD- Confederação Brasileira de Desportos- queria levar apenas jogadores ainda amadores, isso excluía os maiores craques do Brasil que já tinham aderido ao profissionalismo, mas a entidade tinha um “trunfo” nas mangas.
Para alguns jogadores, de forma velada, a entidade oferecia um valor maior que os jogadores profissionais ganhavam em seus clubes, o chamado “amadorismo marrom”, com isso o jogador ficava tentado e aceitava o convite.
Na época a entidade negou tudo, mas é bem estranho que profissionais como Leônidas da Silva, Luisinho e Waldemar Brito terem ido para a Copa. Basicamente o selecionado foi composto da seguinte maneira: Metade jogadores filiados a CBD e outra metade jogadores do Botafogo, que não tinha aderido ao profissionalismo até o momento.
Palestra Itália
A situação era tão complexa que o antigo Palestra Itália – Hoje Palmeiras- escondeu três dos seus principais jogadores em uma fazenda a 169 quilômetros de São Paulo. Entretanto, alguns dizem que Gabardo, Tunga e Junqueira ficaram escondidos mais de duas semanas no local.
O CONTEXTO
A década de 1930, o futebol estava começando a deixar de ser um lazer, um hobby de final de semana para se tornar algo mais sério.
Para um melhor rendimento, alguns times como Vasco e São Cristóvão, ajudavam os jogadores com o famoso “bicho”, pago em dinheiro ou em animais. Isso foi chamado na época de “ amadorismo marrom”, combatido pela entidade do futebol, mas muito praticado por ela mesma.
Para os amadores, o futebol deveria ser disputado por amor, apenas para se distrair, pois para eles, o dinheiro envolvido poderia corromper a pessoa e o jogo , atraindo o que de mais ruim existia. A própria palavra “amador”, significa “que ama” e quem ama não faz por dinheiro.
Mas, para garantir o amadorismo, os clubes faziam uma verdadeira busca na vida pessoal do jogador. O objetivo era saber se ele tinha uma profissão, se trabalhava e se tinha uma renda boa o suficiente para deixar ele jogar e financiar seu uniforme.
Um clube ousou desafiar isso e acabou batendo de frente com a elite: Vasco da Gama, logo depois o campeão carioca de 1926, São Cristóvão praticavam o amadorismo marrom. Fato é que, a partir de 1928 outros times cariocas começaram a praticar também .
Divergências entre os clubes.
Duas entidades brigavam para se consolidar no domínio do futebol, a AMEA que defendia a posição dos amadores e a LCF que desejava o profissionalismo.
Essa briga foi tão intensa que em 1934 houve dois campeonatos cariocas, um profissional e outro amador que participou o Botafogo e o Olaria.
Mas, o interessante é que AMEA desejava o amadorismo porém praticavam o falso amadorismo , onde a organização dava “benesses” aos jogadores. A briga permaneceu até 1935, quando finalmente conseguiram se acertar. A pártir disso, todos os clubes passaram para o profissionalismo e isso refletiu diretamente na copa do Mundo de 1938.
De início os clubes que desejavam o profissionalismo e ajudaram a criar a LCF foram: Fluminense, Vasco, Bangu , América, Bonsucesso, Botafogo, Flamengo e São Cristóvão disputariam o campeonato amador. Portanto, devido a brigas o Flamengo e o São Cri cri abandonam o amadorismo e aderiram ao profissionalismo, mas apenas o Flamengo disputaria o campeonato de 1934.
A história do bicho.
Nos dias atuais, o bicho é um valor pago pós vitória ou conquista de um título importante por parte do time. O clube ou patrocinadora disponibilizam uma valor “X” para se dividir entre jogadores e comissão técnica, mas vocês sabem onde nasceu esse termo?
É sabido entre boa parte dos pesquisadores que o Vasco foi um dos primeiros clubes a introduzir o negro e o pobre para joga futebol. Tal atitude despertou a ira dos outros times. Em 1923 o Vasco sobe para a primeira divisão e logo em seu ano de estreia, vence o campeonato com esses jogadores.
Mas, um time de pobres precisava de uma ajuda para praticar o esporte, já que a maioria trabalhavam em “subempregos “ e mal conseguiam sobreviver.
Um torcedor do Vasco doente e comerciante local decidiu ajudar esses jogadores. No inicio ajudavam dando um bicho aos jogadores, mas depois começou a pagar um valor em dinheiro.
Antes dos jogos, esse comerciante se dirigia aos vestiários, dava sua palavra aos jogadores. Somente em caso de vitória, ele daria um valor em espécie ou animal.
Como era a tabela:
5 mil Réis : um Cachorro
10 mil Réis : um Coelho
20 mil Réis : um Peru
50 mil Réis : um Galo
100 mil Réis : uma Vaca
400 mil Réis : uma Vaca adulta
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