A relação entre um pai e um filho pode ser tranquila ou bem conturbada. Dependendo dos acontecimentos, marcas e cicatrizes podem ser determinantes para o resto da vida, mas o que prevalece é o amor que sente um pelo outro, as vezes com uma pitada de ódio. Certa vez, Nelson Rodrigues disse que “há um parentesco óbvio entre Fluminense e Flamengo” e assim com seu irmão Mário Filho, a relação entre os co- irmão se inicia de forma épica.
Nelson Gonçalves e Mario Filho em vida, representaram bem os dois clubes. Considerados grandes cronistas da história brasileira, viviam brigando por causas de ambos os times, inclusive o termo “Fla x Flu” nasceu em 1925.
Escolher escrever sobre esse clássico é mais que uma homenagem a dois clubes de tanta tradição, é contar um pouco a história de nossa cidade.
Em uma época de amadorismo no futebol, o primeiro Campeonato Carioca foi disputado em 1906 e a grande parte dos campeonatos até então foram vencidos pelo Fluminense, excesso em 1910 vencido pelo Botafogo, e o de 1912, vencido pelo Payssandu .
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A BRIGA
Como uma boa família que se prese , tem uma boa briga. A equipe do Fluminense tinha sido campeã carioca de 1911. Com uma equipe muito forte e poderosa que parecia imbatível, mas um desentendimento entre os jogadores e a diretoria fez com o que craques do Flu fundassem o departamento de futebol do Flamengo.
Entretanto, é importante salientar que o esporte principal carioca da época era o Remo, um esporte elitizado e com prestígio elevadíssimo.
Quem praticava o remo olhava de forma preconceituosa para os jogadores de futebol, que considerava o esporte “pouco másculo”.
O interessante que alguns jogadores do Fluminense viviam o dia a dia do Flamengo . Isto é, eles eram ao mesmo tempo atletas de remo do clube e também do futebol, e isso não era problema.
Entretanto, uma desavença dentro do quadro social do Flu mudaria os rumos da história. Não se sabe exatamente o que provocou a briga, mas o que sabemos é que sete jogadores, incluindo o capitão do time deram origem ao levante.
Os sete atletas
Borgerth, foi o grande responsável pelo movimento e através de sua liderança, os sete atletas formaram o time que disputaria o campeonato de 1912.
As fontes apontam dois lugares onde aconteceu a reunião para tomada de decisão: Rua Catete 186 ou Rua Almeida 186, mas o que se sabe que era a casa do jogador Píndaro .
A situação era calamitosa, uns jogadores pensavam não apenas abandonar o Fluminense, pensavam em parar de jogar futebol e Alberto Borgerth jamais deixaria seus amigos acabarem assim . Como Alberto era um dos principais remadores do Flamengo e sabia que a diretoria desejava ter um departamento de futebol, incentivou seus amigos a realizar uma verdadeira debanada.
Ainda segundo relatos, os jogadores estavam bem magoados com o Fluminense. Sendo assim, os seguintes jogadores formariam o esboço do primeiro time de futebol do Flamengo.
ALBERTO BORGERTH
PÍNDARO
ARMANDO DE ALMEIDA – GALO
EMMANUEL NERY
ERNESTO AMARANTE
GUSTAVO DE CARVALHO
LAURENCE ANDREWS
ORLANDO SAMPAIO
OTHON BAENA
No dia 4 de dezembro de 1911, esses bravos jogadores decidiram criar o departamento de futebol Rubro-Negro e ali começavam a escrever a história de ambos os times .
ALBERTO BORGERTH
Alberto Borgerth nasceu dia 3 de dezembro de 1892, no bairro da Glória. Era filho de José de Siqueira e Fanni Maria. Seu pai foi advogado, chefe de segurança de D. Pedro II e procurador geral. Iniciou sua vida esportiva com o remo em 1906 no Flamengo, ao mesmo tempo jogava no Rio Futebol Clube, uma espécie de juvenil do Fluminense.
Rapidamente ascendeu ao time principal do Fluminense e logo pegou a braçadeira de capitão e foi campeão carioca de 1911.
Em 1912 ajudou a fundar o departamento de futebol do Flamengo, participou do primeiro jogo entre Fla x Flu. Foi campeão carioca pelo Flamengo em 1914 e 1915 sendo artilheiro, ainda foi campeão de Remo em 1915 também pelo Flamengo.
Pendurou as chuteiras para se formar em Medicina e depois disso teve a honra de ser presidente do clube.
O JOGO
O dia era 7 de julho, o ano era 1912, às 15:45 de um dia de sol. O futebol ainda era pouco popular, 800 pessoas com maioria esmagadora de tricolores assistiriam esse confronto histórico.
Os homens estavam de terno, gravata e chapéu como elegantes senhores da Europa, as moças vestidas à francesa. O sol estava gostoso, em nada lembrava o verão carioca.
O tricolor com sua camisa tradicional e o Flamengo com sua camisa conhecida como “Papagaio de vintém”.
O Flamengo vinha de uma boa campanha no carioca, o time estava se destacando. Mas, o favoritismo era total do tricolor.
Porém, os resultados até o momento deixaram o Fluminense preocupado. Enquanto isso, o Flamengo perdeu apenas para o Paysandu ( que seria campeão ) por 2×1. Venceu o Bangu por 7×4, o América 6×3 e o saco de pancadas, Mangueira por 16×2. O juiz daquela partida foi o Frank Robinson.
As escalações
FLUMINENSE: LAPORT, MAIA,BELO, LEAL,MUTZEMCKER, PERNAMBUCO, OSVALDO,BARTô, BEHRMANN, EDWARD CALVERT E JAMES CALVERT.
FLAMENGO: BAENO, PINDARO, NEY,CINTRA, GILBERTO, GALO, ORLANDO, ARNALDO, BORGHERT, GUSTAVO E AMARANTE.
A tensão estava no ar, o jogo envolvia não apenas o pontos do campeonato , valia a honra dos jogadores, independente de quem ganhasse o jogo, nascia o confronto para a eternidade , nascia uma das maiores rivalidades do mundo .
Esse maravilhoso jogo termina 3×2 para o Fluminense e quem teve a honra de fazer o primeiro gol foi o tricolor Edward Calvert logo no primeiro minuto de jogo e o primeiro gol do Flamengo foi marcado pelo Arnaldo.
Por curiosidade, os dois “irmãos” por muitos anos ficaram praticamente lado a lado, já que o campo do Fluminense na Rua Guanabara- hoje Pinheiro Machado – era praticamente de frente ao campo do Flamengo que ficava na rua Paysandu, onde jogou o time até 1932, quando mudou-se para a Gávea.
Não é uma relação de Pai e filho, é uma relação de irmão, que brigam mas se amam e um não vive sem o outro. Viva o Fluminense ,Viva o Flamengo, viva o Futebol Carioca!
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