A rivalidade entre Brasil e Argentina vai muito além do futebol, isso todo mundo sabe. Quando brasileiros e argentinos se encontram sempre surge a boa e velha pergunta sobre quem é melhor, Pelé ou Maradona? Ou a versão atualizada, Messi ou Neymar?
Há quem diga que essa disputa teve início ainda no velho continente e já existia muito antes da criação do esporte mais popular do planeta.
Entretanto, dentro das quatro linhas, a primeira partida oficial entre Brasil e Argentina aconteceu somente em 1914, ano de criação da seleção brasileira. O jogo terminou com vitória fácil dos argentinos por 3×0, em disputa realizada na cidade de Buenos Aires.
Ademais, estamos sempre competindo com nossos vizinhos e não faltam argumentos para os dois lados. Se temos 5 títulos da Copa do Mundo contra 2 dos rivais, eles podem se gabar das 25 Libertadores da América contra nossas 21 conquistas.
Nossos hermanos são apaixonados por futebol e assim como nós, gostam de se reunir em bares noturnos para assistir aos jogos na companhia dos amigos e de uma boa cerveja gelada.
Na minha última passagem por Buenos Aires tive a oportunidade de acompanhar a partida entre Corinthians e Boca Juniors, em um desses redutos do futebol argentino, a Pizzaria El Cuartito.
El Cuartito, Tradição desde 1934
Fui convidado por Roman, um argentino de 46 anos e torcedor fanático do Estudiantes de La Plata, tradicional equipe que conquistou o mundo em 1968 e foi campeã da Libertadores em quatro edições. Mas, no Brasil sua fama é ofuscada pelos rivais River e Boca.
A pizzaria localizada no bairro da Recoleta, funciona desde 1934 e de longe é possível ver o letreiro vermelho luminoso. Entretanto, para entrar é preciso ter paciência e enfrentar uma fila que vai diminuindo conforme as mesas são desocupadas pelos clientes.
Após mais ou menos vinte minutos de espera conseguimos uma mesa. Mas, a partida tinha acabado de começar e com o apito inicial, o silêncio deu espaço ao nervosismo dos torcedores do Boca que lotavam o lugar.
Antes da chegada do garçom, dei uma rápida olhada nas mesas ao nosso redor para observar qual era a marca de cerveja preferida do torcedor argentino. Como não queria ofender nenhuma cultura e manter a tradição do local, pedimos uma garrafa da popular Quilmes e dois copos.
Fugazzeta
Para comer, pedimos a tradicional pizza portenha de “muito”queijo com cebola, conhecida como fugazzeta. Enquanto isso, na TV assistimos um primeiro tempo sem muitas emoções para ambos os lados. O que fez com que eu pudesse dar mais atenção para a decoração do lugar.
Posteres de times campeões estão espalhados pelas paredes, camisas autografadas por ídolos do futebol argentino são exibidas com orgulho. Além disso, flâmulas de clubes de todas as divisões do país ocupam espaço de destaque. A única parede que não possui nenhuma alusão ao futebol argentino é onde está o menu com as opções do cardápio.
A Partida
Sou interrompido pelo xingamentos ao árbitro da partida pela marcação de um pênalti de Marco Rojo em cima do jovem corintiano Gustavo Mantuan. O silêncio novamente tomou conta do ambiente, até que na cobrança, Roger Guedes bateu fraco e facilitou a defesa do goleiro Rossi, transformando o local em uma verdadeira “barra argentina” .
No entanto, na mesa ao lado da nossa, uma conversa em português chamou a nossa atenção. Um casal de brasileiros, torcedores do Palmeiras secavam o rival paulista mesmo longe de casa.
Dois pedaços de pizza portenha e três garrafas de Quilmes depois, o jogo termina 0 x 0 e o resultado parece ter agradado os argentinos que comemoraram bastante ao apito final. Pois, jogando fora de casa contra o velho conhecido rival e algoz da final de 2012, o empate não foi ruim.
Empate sem sabor
Aos poucos a pizzaria vai esvaziando e a TV Argentina passa a exibir uma mesa redonda, que debate lances polêmicos da partida. Sobretudo, a penalidade máxima marcada a favor do Corinthians e um suposto pênalti não marcado pelo VAR a favor dos argentinos.
Assim, após pagar a conta nos levantamos, vestimos nossos casacos e voltamos para casa caminhando pelas ruas quase desertas da fria Buenos Aires. Em uma noite que teve pizza portenha na tradicional El Cuartito, cerveja gelada e futebol, só não teve o principal, gols.
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